quarta-feira, 27 de julho de 2011

Homem à mesa

Tenho observado a mesa, em especial a mesa de jantar. Tenho observado o jantar, em especial a hora do jantar. O que acontece, como as pessoas agem, o que fazem, porquê fazem. Isso tudo me fascina. Aquela mesa arrumada, as pessoas à volta, sentadas. Filhos, pais, netos, avós, amigos, todos ganham um certo pé de igualdade quando sentados à mesa - especialmente se ela for redonda. Quanta coisa se pode fazer, quanta conversa, quanto tempo passamos em volta da mesa. E é um tempo bem gasto, como diz a mamãe, quando se sabe fazer bom uso da tal mesa. Ela pode servir para reunir, agrupar, aproximar, apresentar...

Um dia, ainda pretendo sentar e aproveitar cada refeição, usando os talheres, o copo, o guardanapo, tudo direitinho como manda o figurino. Farei como meu bisavô, sem pressa, com jeito, da entrada à sobremesa e quem sabe encerrando com um cafezinho, sem nunca esquecer de um bom papo.

Por enquanto, ainda com pressa, só nos resta é muita conversa.

- Menino, coma tudo. Use a colher direito. Vai derrubar do prato. Preste atenção. Na mesa não é lugar de brincadeira. Pare de enrolar e coma antes que esfrie. Vai, filho, com suas próprias mãos.

Ufa, um dia vou comer feito gente grande, mas gente grande, grande mesmo. Feito gente que sabe aproveitar um bom momento à mesa. Ainda vou aprender... você vai ver.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A formiga e a cidade

No começo era assim: elas andavam pela terra, escolhiam as melhores folhas, algumas mais ambiciosas e corajosas carregavam folhas enormes, ou até mesmo pedaços de frutas e insetos mortos. Faziam uma fila imensa à caminho de sua casa, levando toda comida que podiam nas costas, trabalhando pesado o verão todo para que quando chegasse o frio estivessem todas em seus formigueiros, seguras, quentinhas e de barriguinha cheia.

As formigas são o gênero animal de maior sucesso no planeta, constituem de 15% a 20% de toda biomassa animal terrestre (hein?!). E seus formigueiros (autênticas obras de engenharia, normalmente sunterrâneas, com um complexo sistema de túneis e câmaras com funções especiais – para o armazenamento de alimentos, para a rainha, o “berçário”, onde são tratadas as larvas, etc.) estão por toda parte, menos nos pólos (elas não gostam de frio).

Mas foi então que as cidades começaram a crescer, casinhas, alguns castelos aqui e ali... depois prédios gigantescos, milhares deles, ruas, estradas, carros. E as formigas - altamente organizadas que são - resolveram se adaptar a essa nova realidade, passaram a subir andares e descobriram o AÇUCAR e o açucareiro.

Algumas devem ter tido treinamento ninja porque aparecem (do nada) num piscar de olhos. Outro dia fiz o teste: deixei meu copo de suco de uva (docinho) em cima de uma mesinha no meu quarto, saí do quarto e quando voltei pouco tempo depois... lá estavam elas, algumas já haviam mergulhado no líquido roxo, outras subiam no copo decididas a fazer não sei bem o quê (já que não levariam o suco para seu formigueiro) e outras já estavam organizadas em uma fila que vinha não sei bem de onde. NINJAS. Formigas ninjas.

Aliás, onde fica o formigueiro dessas pequenas abusadas que insistem em invadir minha casa - no 19º andar de um prédio?!

E digo mais, elas não vem só atrás de doce, farelos de biscoito. qualquer resto de comida, ou mesmo beber suco ou leite com chocolate. Elas atacaram o pior remédio do mundo, um que eu corri para não tomar. Essas formigas mutantes, gulosas, "alieninjenas".

Já disse uma vez e não vou repetir: na minha casa não, voltem a carregar suas folhinhas lá no chão.